Os fãs de Jornada nas Estrelas conhecem bem o comportamento egoísta de William Shatner no set e como ele sempre se viu como o verdadeiro protagonista de “Star Trek”. Partindo dessa premissa, Nimoy e DeForest Kelley eram seus co-protagonistas, enquanto os outros atores eram apenas membros secundários do elenco. Por se considerar a estrela, Shatner era conhecido por ser rude e desrespeitoso com os outros atores, muitas vezes monopolizando a atenção, tentando roubar as falas dos colegas e geralmente agindo de forma inadequada. Não demorou anos para que Shatner e alguns de seus colegas de elenco – mas apenas alguns deles – se reconciliassem e, em alguns casos, se tornassem amigos íntimos.
Em 1986, a Paramount parecia disposta a se curvar ao ego de Shatner e exigiu que Kirk fosse colocado no centro das atenções em “Star Trek IV”, mesmo que a história não fosse centrada em Kirk. Meerson lembrou das instruções claras:
“A abordagem que nos disseram para adotar é que Kirk realmente tinha que liderar todos. […] Não necessariamente que ele realmente tivesse a ideia de fazer algo, mas tinha que parecer que ele tinha a ideia.”
Krikes lembrou como essa ordem era ilógica e como, ao assistir ao filme, é possível perceber como Kirk foi inserido de forma arbitrária em várias cenas que não eram dele. Por exemplo, há uma cena perto do final do filme em que Spock (Nimoy) conversa com seu pai Sarek (Mark Lenard). Kirk está presente ao fundo, simplesmente observando a conversa. Não havia motivo para ele estar ali. Mas era isso que a Paramount queria.
Se você prestar atenção, verá que a atitude de Shatner fez com que a equipe de produção inserisse o personagem de Kirk em situações em que ele não se encaixava organicamente, o que comprometeu a fluidez da narrativa. Essa imposição acabou afetando o ritmo do filme e a dinâmica entre os personagens, já que a presença forçada de Kirk em certas cenas interferiu na naturalidade das interações.
A postura de Shatner durante as filmagens de “Star Trek IV” refletiu não apenas sua visão egocêntrica do seu papel, mas também a falta de consideração com os demais atores e com o trabalho em equipe no set. Ao se colocar como o centro das atenções, ele desrespeitou o trabalho e o espaço dos colegas de elenco, interferindo no desenvolvimento da trama e na atuação dos demais personagens.
Apesar dos desafios enfrentados durante as gravações, “Star Trek IV” conseguiu superar as expectativas e se tornou um sucesso de bilheteria e crítica. A força da história e o talento do elenco, apesar das dificuldades nos bastidores, garantiram que o filme fosse bem recebido pelo público e pela imprensa especializada.
No final das contas, a imposição de colocar Kirk no centro da trama de “Star Trek IV” pode ter sido uma tentativa da Paramount de agradar a William Shatner, mas acabou prejudicando a qualidade do filme e a experiência dos fãs da franquia. Ainda assim, a obra conseguiu se destacar e conquistar seu lugar no coração dos admiradores de Jornada nas Estrelas.