Uma das cenas mais perturbadoras de “Aniquilação”, além do urso mutante que imita um ser humano, é o doppelgänger cintilante que Lena encontra dentro do farol. A nuvem na qual Ventress se dissolve absorve uma gota de sangue de Lena, seu DNA, e aos poucos se transforma em uma versão espelhada de si mesma, imitando a pessoa que pretende copiar. A trilha sonora crescente e que induz à ansiedade injeta algo profundamente alienante na sequência, onde a verdadeira Lena observa seu duplo com admiração e horror, com cada movimento sendo replicado em uma dança distorcida que supera a comunicação verbal. É difícil determinar se essa cópia tem intenções próprias, muito menos se são inofensivas ou malévolas, mas sua curiosidade quase infantil em imitar e se adaptar é fundamentalmente assustadora.
Apesar de Lena enganar seu doppelgänger para autodestruição e escapar do farol em chamas (que destrói o Brilho de dentro para fora), ela muda irrevogavelmente devido ao seu contato com algo tão estranho. No final, ela está ciente de que Kane não é realmente Kane, mas também não é mais a mesma mulher que entrou na zona, uma vez que o Brilho remodelou completamente seu relacionamento com o marido e suas próprias fraquezas humanas que são acompanhadas por tendências autodestrutivas. Este é mais um passo na evolução genética da humanidade, porém os efeitos são imprevisíveis, assim como o Brilho, que desafia os conceitos tradicionais de espaço-tempo e a ordem “natural” das coisas.
O filme termina com a sombria aceitação dessa realidade alterada, e esse sentimento também está presente no último romance de VanderMeer na trilogia, intitulado “Acceptance”, onde um personagem viaja através de um portal e se lança em direção à misteriosa luz no fundo de uma torre após descobrir as origens distorcidas da Área X.